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domingo, 8 de setembro de 2013

SEIS DÉCADAS DE ÔNIBUS




Por Antonio Ferro

Um passeio histórico pelos 60 anos da Marcopolo através de suas gerações de carroçarias urbanas e rodoviárias.

A história nos conta que o pai do explorador e mercador veneziano Marco Pólo se chamava Nicolau Pólo ou simplesmente Niccolò. Coincidência ou não, o fato é que a encarroçadora gaúcha Marcopolo, que neste ano chega aos 60 anos trazendo na bagagem muita experiência na construção de ônibus, tem em suas origens um nome que muito se assemelha ao antepassado de Marco Pólo. Ela nasceu como Nicola & Cia. Ltda em 06 de Agosto de 1949 pelas mãos de oito sócios que se dispuseram a construir e reformar ônibus. Assim Caxias do Sul, que na época contava com pouco mais de 50.000 habitantes, entrava definitivamente no mapa mundial dos maiores produtores de ônibus, urbanos e rodoviários. De sua produção artesanal, onde um caminhão era todo revestido com estrutura de madeira e chapeamento em aço para se transformar em um veículo ônibus, até os mais modernos tipos de carroçarias produzidas nos dias de hoje, o nome Marcopolo aventurou-se a competir com grandes marcas européias pelo mercado mundial, sempre trazendo conhecimento em fabricar um leque de carroçarias adaptados para as mais variadas condições de tráfego e operação. Após seis décadas de história, atualmente ela é uma das três maiores fabricantes de ônibus do mundo.


Os primeiros ônibus da Nicola utilizavam madeira e aço e tinham revestimento interno de duratex.
Fotos - Memória Marcopolo
Mas antes de seu reconhecimento internacional e de sua importância no mercado doméstico, a Marcopolo, melhor dizendo, a Nicola, possuía em sua linha de produção verdadeiros carpinteiros e marceneiros que construíam ônibus. As estruturas das carroçarias eram compostas por madeira de lei (angico, cedro, canela) que exigiam exímios profissionais na arte de trabalhar cada detalhe para adaptar o chassi, que era de um caminhão usado ou novo vindo diretamente de São Paulo para se transformar no ofício de transportar pessoas, à estrutura de cada modelo. O setor de ferraria produzia as peças necessárias para o acabamento estético. Fazia-se ônibus na raça, pois as dificuldades eram enormes frente a escassez de materiais e dos próprios veículos. De 1952 em diante, o uso de uma estrutura metálica começa a substituir a madeira, com conseqüências benéficas aos ônibus, que se tornaram mais leves, resistentes, seguros e duráveis. Novos equipamentos, como a solda a ponto e uma máquina para o corte curvo das chapas, ambas importadas da Alemanha, foram introduzidos na linha de produção. Segundo registros da Marcopolo, com a adoção do metal uma carroçaria urbana, com capacidade média para 32 passageiros pesava 2.575 kg e o modelo rodoviário, para 28 passageiros, 2.790 kg.

Com a chegada de novas marcas de chassis no Brasil, novos ônibus são desenvolvidos.
Foto - arquivo Scania do Brasil.
A partir da década de 1960, a indústria automobilística brasileira é impulsionada pela chegada de muitas marcas que ainda sem mantêm em nossa terra. Chassis desenvolvidos para o transporte de passageiros passam a ser produzidos pela Mercedes Benz e Scania. Outras marcas, como a FNM, já presente no cenário brasileiro desde os anos 50, e a Magirus Deutz iniciam a fabricação de seus modelos específicos para ônibus. Com isso, novos tipos de carroçarias são projetados e construídos de acordo com o padrão escolhido pelos clientes de várias regiões brasileiras e até de outros paises da América do Sul. Itens opcionais como poltronas leito, geladeira, calefação, iluminação individual, cabine de separação do salão de passageiros com o posto do motorista e até wc são introduzidos nas novas carroçarias. Dois novos modelos são oferecidos – a Série Prata, constituída por um veículo mais simples e barato e a Série Ouro, uma versão mais luxuosa, para equipar os chassis pesados.
Série Ouro - Conforto ao passageiro.
Foto - arquivo Ouro e Prata

Em sua atividade comercial, vender exigia um incessante exercício de contato e deslocamento, fazendo com que alguns de seus diretores assumissem também o departamento de vendas. A divulgação era de porta em porta dos transportadores, munidos sempre com fotos mostrando as características de cada produto fabricado. A solução foi encontrar representantes em cada estado brasileiro para ampliar em nível nacional a sua presença, chegando ao mais longe rincão tupiniquim e também sendo decisiva para a exploração de áreas distantes dos principais pólos urbanísticos do Brasil. Além disso, as feiras e exposições foram fundamentais na divulgação de sua marca e seus produtos. O Salão do Automóvel de São Paulo, por exemplo, foi um evento de extrema importância para expor o que de melhor fazia. E o país ficou pequeno nos planos da encarroçadora Nicola. Em 1961, as portas do mercado externo são abertas com o envio das duas primeiras unidades montadas sobre chassis Mercedes Benz para o Uruguai, com o contrato de fornecimento para a empresa Compañia de Omnibus Pando S.A.

Novo nome e novo ônibus
Foto - Memória Marcopolo
De Nicola para Marcopolo. O início da transição ocorreu em 1968 quando foi apresentada uma nova carroçaria com o nome de Marcopolo, inspirado no navegador do começo desta história e escolhido pelos integrantes da empresa. Essa nova versão trouxe a caixa de itinerário localizada internamente, no pára-brisa direito, uma inovação para a época. Três anos depois, com o sucesso da carroçaria, o nome Nicola deixa de existir para dar lugar a Marcopolo como denominação social. A primeira metade da década de 70 é marcada pelo surgimento de novos modelos de ônibus com a marca gaúcha. São lançados os rodoviários Marcopolo II, III e SE, além dos urbanos Veneza, Sanremo e Sanremo ST e do micro Marcopolo Júnior (primeiro modelo de ônibus brasileiro exportado para a Europa), todos identificados por linhas estéticas que até então eram consideradas inovadoras, como o uso de janelas retas ou inclinadas, novos desenhos de faróis e no layout interior. Em 1972, através de uma parceria com a Cummins do Nordeste e com a montadora belga Van Hool, a empresa incursiona na produção de um chassi tubular com motor traseiro, suspensão pneumática e direção hidráulica. Mas a empreitada não teve sucesso. Um ano antes, para oferecer melhor comodidade aos passageiros de seus ônibus rodoviários, a Marcopolo obtém licença de fabricação do sanitário químico Monogran, marca norte-americana fornecedora desse tipo de equipamento para aviões e trailers. Ainda nessa década, a empresa adquire as encarroçadoras Carrocerias Eliziario, de Porto Alegre, e a Nimbus.

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A década de 1970 representou uma mudança de estilo em suas carroçarias.
Fotos - Memória Marcopolo
Um consórcio formado com a Ansaldo do Brasil Equipamentos Eletromecânicos S/A, Scania do Brasil, Inepar Indústria e Construções e Bardella Boriello Eletromecânica S/A, permitiu que a Marcopolo produzisse em 1979 o primeiro trólebus brasileiro com sistema de comando totalmente eletrônico, sendo considerado o ônibus elétrico mais avançado da América Latina. A encarroçadora também mostrou seu pioneirismo ao lançar o primeiro ônibus articulado rodoviário – modelo Marcopolo III –, sobre chassi Scania B111.

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Inovações, como o primeiro trólebus com comando eletrônico e o pioneiro rodoviário articulado.
Fotos - Memória Marcopolo
As gerações se sucedem

No inicio dos anos 80 chega ao mercado a Geração IV de ônibus, composta pelos modelos Paradiso, Viaggio, Strada, Senior e Torino idealizados para todas as aplicações – em linhas urbanas, rodoviárias e de turismo. Com um investimento de US$ 2 milhões em pesquisas e desenvolvimento, as novas carroçarias se destacam por um visual moderno e se caracterizavam pela mais alta tecnologia e segurança. A nova linha de ônibus foi uma evolução em termos estéticos e de conceitos dos modelos anteriores. Por exemplo, o modelo Paradiso foi o primeiro produto rodoviário high deck (piso alto) construído para as operações em linhas regulares ou de turismo de luxo em nosso país. Outro destaque no projeto dessa geração foi a participação dos clientes da Marcopolo, que demonstraram todas as suas necessidades em questões como operação, conforto e segurança.


Geração 4
Fotos - Memória Marcopolo

Na década seguinte, com mais de 40 anos de tradição, a encarroçadora apresenta em 1992 a sua Geração V em carroçarias rodoviárias, com significativos aperfeiçoamentos na qualidade de produto, na segurança e conforto, na versatilidade e nos processos de produção. Tempos depois, são produzidos os modelos Andare (intermunicipal), Viale (urbano), o novo Torino e o Volare, um mini ônibus de extremo sucesso entre os operadores do transporte. Ainda em 1992 ela apresenta o Torino bi articulado para Curitiba e logo depois o Torino GV-LS (Long Size), dotado com 5 portas no lado esquerdo e duas no lado direito, um design diferenciado em sua área frontal e a adoção de um teto inteiriço feito em fibra de vidro, que eliminou a necessidade de rebites e reduziu o peso do veículo. E é da Marcopolo o primeiro modelo rodoviário de carroçaria com dois pisos (double decker) em operação comercial pelas estradas brasileiras.

A quinta geração incorporou novas linhas externas.
Foto - Rápido Ribeirão Preto

A Geração VI demandou 2 anos de estudos e R$ 8 milhões no desenvolvimento de uma renovada linha de carroçarias rodoviárias, trazendo muita inovação em design, salão de passageiros e itens de segurança. Além disso, as novas carroçarias proporcionaram 5% de ganho no quesito coeficiente aerodinâmico em relação a linha anterior e o padrão estético externo dos veículos, com superfícies mais lisas, o que permitiu a sua limpeza mais facilitada e completa. Outros detalhes, como o uso do sistema multiplex, com dezena de funções que facilitam a vida do motorista e de um novo conjunto óptico, com visual de vanguarda, deram o tom de evolução nos modelos. Com a utilização cada vez mais crescente do sistema de ar condicionado, os novos ônibus GVI também puderam incorporar uma nova área envidraçada, com maior proporção, privilegiando a visão externas dos passageiros.

A atual Geração VI revela harmonia e modernidade entre as carroçarias rodoviárias.
Foto - Marcopolo
Nestes 60 anos de Marcopolo, o que se viu foi uma revolução em conceitos aplicados aos ônibus. Muita coisa nova foi definida para que sensíveis melhoras fossem constatadas ao se utilizar os ônibus urbanos ou então aproveitar uma viagem rodoviária. Porém a valorização não foi apenas dedicada aos veículos, com inúmeras inovações tecnológicas, como também através da atenção voltada ao ser humano, seja o usuário de seus produtos, os clientes ou então no respeito por seus colaboradores, um patrimônio alcançado no decorrer de muito esforço, criatividade e pertinácia.
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Alguns nomes que marcaram época na Nicola/Marcopolo
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Dorval Antonio Nicola
Doracy Luiz Nicola
Nelson João Nicola
Paulo Bellini
Valter Gomes Pinto
José Antonio Fernandes Martins

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